Cisnes Negros da Liderança
“É preciso muita coragem para ser diferente e muita competência para fazer a diferença”

Cisnes Negros da Liderança
A abordagem principal deste livro é vincar a, ainda, grande diferença entre teoria e prática no que diz respeito a práticas e estilos de Liderança — todos sabem dizer o que esperam de um líder, quais as competências que ele deve ter, no entanto, no dia-a-dia, não encontram ninguém que o seja. Qual a razão para que tal assim aconteça? Se sabemos a teoria, o que falta para ela passar à prática? Mas atenção, e é isso que tenho vindo a falar, nem todos os líderes são brancos (“maus”)… contudo, é ainda muito difícil encontrar os negros (“emocionais” — que são os que fazem a diferença, pela positiva, e são os que prosperarão no futuro).
Enfrentamos actualmente uma crise emocional. Os níveis de “stress”, ansiedade e depressão estão mais altos do que nunca. O vazio entre líderes e liderados atingiu um pico histórico. Os líderes têm um forte impacto na vida das pessoas e na forma como o mundo se desenvolve, mas o que se tem visto nos dias que correm é que o compromisso com essas pessoas, a que acresce o compromisso com o meio ambiente ou com a sociedade, são anulados pelo resultadismo, pelos objectivos, pelo lucro. O mundo um lugar melhor para viver é aquele em que as pessoas são mais felizes, e é nisso que nos devemos focar, é para isso que devemos trabalhar.
Vivemos num Mundo que cada vez mais, por paradoxal que pareça, não conhecemos bem. Esta é a premissa básica da Teoria dos Cisnes Negros. São apelidados de Cisnes Negros aqueles fenómenos que cumulativamente reúnem as seguintes 3 características:
- Raro, improvável, inverosímil e atípico;
- Altamente impactante — consequências de enorme magnitude;
- A jusante, depois de acontecerem, “facilmente” explicáveis e até previsíveis (mas na verdade, a montante, na generalidade dos casos com muito poucas probabilidades de antecipação);
Cisnes Negros são então eventos caracterizados por uma relação inversamente proporcional entre a sua probabilidade (muito baixa ou remota) e o seu impacto (que é sempre tremendo).
Na Liderança, também há Cisnes Negros. São raros, mas existem, e refiro-me a eles naquilo que é o que considero ser a sua essência. São líderes que marcam a diferença, com capacidades de comunicação incomuns, com carácter e visão diferenciados, extremamente humildes, cuidado e preocupação com os outros (genuinamente!), empáticos e emocionais — são aqueles a quem chamo de “leadermotionalists”. Estes líderes encaram qualquer desafio como uma oportunidade e não têm medo de pedir ajuda. Como foi dito, têm o dom da comunicação. O dom. Não é apenas saber falar ou apenas saber ouvir. São ambos, em equilíbrio, e de forma «ímpar». Isso vê-se pouco, embora a sua importância e decisividade sejam inegáveis (porque muitos líderes só falam; outros vão mais longe e até ouvem, mas não escutam — ou escutam, mas não interiorizam, não dão seguimento, não querem saber). Acabam por ouvir mais do que falar. Valorizam e estimulam. Importam-se. Preocupam-se genuinamente — e isso é visível — e não têm problemas em mostrar as suas emoções. São quem aporta mais e maior humanização e humanidade às relações interpessoais dentro das Organizações — e a Liderança é um assunto totalmente humano, é de pessoas para as pessoas. São Cisnes Negros não numa lógica de imprevisibilidade, como na teoria original, mas mais numa lógica de improbabilidade, no sentido de que há muito poucos, ou estão «escondidos», e nunca sabemos muito bem onde podemos encontrá-los — ou se os encontraremos. É estranho referirmo-nos a eles como diferentes, mas a verdade é que o são. Deveriam ser a regra, contudo, infelizmente, são a exceção.
Os “leadermotionalists” são o modelo final de Liderança. São, nos dias de hoje, “Influencers” organizacionais. São o “benchmark” da cultura interna e, em muitos casos, também da externa. São alquimistas organizacionais, que, entre outras, têm a capacidade de revolucionar a Liderança, passando da, até agora, “agir sem emoção” para o desejável/futuro “liderar sem acção” – alquimistas da sua própria identidade, para chegarem às suas equipas e transformá-las em algo único, onde verdadeiramente “o todo vale sempre mais do que a soma das partes”.
São emocionalmente inteligentes — inteligentes nas emoções, no seu conhecimento, gestão e utilização — e inteligentemente emocionais — são emocionais na e com inteligência.
Costumo acrescentar que, mais do Inteligência Emocional, ou para lá de Inteligência Emocional, os grandes líderes têm de ter “Emocionalidade Inteligente” — ajustar ou adaptar o seu perfil emocional a qualquer situação, evento ou circunstância com que se deparem (será, no limite, uma espécie de sub-ramo da Inteligência Emocional). São aqueles líderes que todos querem ter, mas não conseguem encontrar. Líderes que reúnem em si os 13 C’s da Liderança (a desenvolver na Apresentação). Os Cisnes Negros são diferentes, únicos, extremos e inesperados. E sabe-se do estigma que existe associado ao ser-se diferente, contudo, neste caso, ser diferente é que devia ser a regra; neste contexto, ser diferente é que é de valor. Não temos de ter medo de o ser. «É preciso muita coragem para ser diferente, e muita competência para fazer a diferença.»
As pessoas estão cansadas de líderes básicos, líderes comuns, «patrões». Querem emoções, cuidado e empatia. Há muita pesquisa que demonstra que as pessoas são mais felizes e conseguem melhores resultados, têm um nível de produtividade mais elevado, quando sentem que são valorizadas, que fazem parte de algo e quando são ouvidas. As pessoas sempre gostaram mais de líderes que promovem a «liberdade criativa controlada», porque a pressão constante sufoca, a monitorização permanente inibe e o controlo sistemático condiciona.
Os Cisnes Negros da Liderança também têm e perseguem objectivos, naturalmente, mas o foco principal está naqueles que o vão levar à sua concretização. Tem noção das tarefas a realizar, mas o foco principal é quem as realiza. Almejam o bem-estar organizacional, mas sem perseguir o bem-estar individual. A sua preocupação é a floresta, mas árvore a árvore. Têm presente a conjuntura, mas a sua preocupação é a estrutura.
A Liderança Emocional passa sobretudo por um principal pressuposto e regra basilar: não é tanto tratar ninguém de forma diferente, é mais não tratar todos de modo igual.